Fatores climáticos na agricultura: o impacto do El Niño e do La Niña
Como você já sabe, o clima exerce um grande impacto na agricultura, influenciando diretamente os resultados obtidos ao longo das safras. Estima-se que até 80% da variação na produtividade no campo seja resultado da sazonalidade do clima. Os 20% restantes seriam relativos a questões econômicas, sociais e políticas.
Dentro das variações climáticas no Brasil, a presença de fenômenos como o La Niña e o El Niño podem representar mudanças ainda mais significativas nas diferentes regiões produtoras do país. Por isso, convidamos você a entender mais sobre ambos e o que fazer para minimizar seus efeitos. Boa leitura!
Afinal, o que é o El Niño e o La Niña?
Em linhas gerais, o El Niño e a La Niña (termos do espanhol que significam “o menino” e “a menina”, respectivamente), são fenômenos climáticos causados pela mudança na temperatura na superfície das águas do Oceano Pacífico. Isso faz com que uma série de processos atmosféricos sofram mudanças, conforme detalhamos nos tópicos abaixo.
El Niño
O El Niño diz respeito ao aquecimento anormal das águas do Pacífico na região entre os trópicos. A razão para esse aumento de temperatura está associada à diminuição do fluxo de ventos alísios, que sopram do Equador em direção aos trópicos.
Como média, o El Niño surge em períodos que vão de 2 a 7 anos. Embora a elevação da temperatura muitas vezes não supere a média de 0,5ºC, seus impactos nas lavouras podem ser significativos, inclusive no Brasil.
Em nosso país, a presença desse fenômeno costuma trazer chuvas em excesso e temperatura acima da média no Sudeste, no Sul e em partes do Centro-Oeste, e diminuição acentuada do volume pluviométrico no Norte e no Nordeste.
La Niña
A La Niña, por sua vez, é o exato oposto do El Niño, já que sua presença é notada pelo resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico, principalmente entre os trópicos. Tal decréscimo nos termômetros acontece devido a intensificação dos ventos que sopram do Equador, fazendo com que mais calor seja retirado da superfície marítima.
Do mesmo modo que a sua contraparte, a La Niña traz uma série de impactos para as lavouras brasileiras. Em áreas do Sudeste e do Sul, é comum termos verões com temperaturas abaixo da média e um inverno bastante árido. Enquanto isso, regiões do Norte e do Nordeste têm chuva acima da média, o que às vezes também atinge o Centro-Oeste.
Quais as consequências deles no agronegócio?
A presença seja do El Niño, seja da La Niña traz consequências para a produção agrícola Brasil afora. Por isso, os agricultores precisam estar preparados para as alterações nos padrões climáticos decorrentes desses fenômenos. Então conheça as consequências imediatas deles na agricultura.
Imprevisibilidade
O sucesso da lavoura depende bastante do comportamento adequado do clima, como mostramos na introdução do conteúdo. Com isso, dependendo do local em que o produtor está, ele pode sofrer com atraso no início do período de chuvas, com estiagens que se prolongam além do esperado.
Dessa forma, diante do El Niño e da La Niña fica mais difícil, por exemplo, planejar o momento ideal da semeadura da cultura ou programar as aplicações de defensivos nas lavouras. Do mesmo modo, o desenvolvimento das culturas e o aparecimento de pragas, doenças e plantas daninhas pode ser afetado com a alteração no padrão de precipitação e temperatura.
Perdas financeiras
Há uma relação clara entre a presença de fenômenos como La Niña e El Niño, e a perda da produtividade no agronegócio, já que muitas culturas são afetadas pelo excesso ou pela falta de chuvas.
Ao mesmo tempo, essas circunstâncias podem elevar os custos de produção, gerar quebras de safra, reduzir a qualidade daquilo que é colhido e até mesmo dificultar o escoamento. Com isso, agricultores de regiões mais afetadas podem sofrer com perdas financeiras significativas, que podem gerar impactos por vários anos.
Aumento de pragas, doenças e plantas daninhas
Alterações no clima causados pelos fenômenos no Pacífico podem também influenciar a presença de pragas e plantas daninhas na lavoura, além de exigir um monitoramento mais cuidadoso das doenças que podem atingir o cultivo nesse período.
Condições em que há altas temperaturas e excesso de chuva podem favorecer a proliferação de diversos tipos de fungos e plantas daninhas, por exemplo. O solo úmido pode favorecer tanto o desenvolvimento de doenças radiculares quanto a germinação de sementes de plantas daninhas presentes no banco de sementes do solo. Dessa forma, é preciso adotar estratégias de controle adequadas desses problemas mesmo em um cenário climático adverso.
Como se preparar para as mudanças climáticas?
O El Niño e a La Niña, bem como as mudanças climáticas como um todo, vão exigir cada vez mais uma boa gestão do clima dentro da lavoura. Por isso, separamos algumas dicas de boas práticas agrícolas para enfrentar tais desafios.
Fazer um bom planejamento
Levando em conta o histórico da sua região, reforce o seu planejamento. Com isso, será mais fácil se proteger das intempéries climáticas e minimizar os prejuízos.
Tal planejamento passa por monitorar frequentemente as condições climáticas da sua região, estar atento aos boletins de previsões climáticas emitidos pelos órgãos responsáveis, avaliar o melhor momento para realizar as atividades na lavoura, a escolha adequada das cultivares e o cálculo preciso de todos os custos de produção.
Investir em tecnologia
A atividade agrícola passa a depender mais da tecnologia. Por isso, não ignore o investimento em ferramentas que podem ajudá-lo, principalmente na tomada de decisões.
E quando falamos de mudanças climáticas, é importante ir além da previsão do tempo. Nesse sentido, procure saber sobre os benefícios de práticas de zoneamento agrícola, da implementação de espécies mais tolerantes e adaptadas às diferentes regiões e até mesmo da adoção da inteligência artificial na agricultura.
O ADAMA Clima, por exemplo, auxilia a otimizar o uso de insumos e a aumentar a produtividade da lavoura. A estações meteorológicas, instaladas nas propriedades rurais, fornecem informações climáticas específicas, como gráficos de temperatura, umidade relativa, velocidade do vento e a probabilidade de precipitação, além do histórico do clima na região. Tudo isso, para ajudar ainda mais os agricultores no processo de tomada de decisão das operações agrícolas.
Acompanhar as tendências
Por fim, independentemente das condições climáticas, mantenha-se atualizado sobre o que as inovações podem oferecer para a gestão da fazenda. Ao levar isso em conta, é possível elevar os ganhos de produtividade, ampliar investimentos e minimizar alguns dos problemas que indicamos ao longo deste artigo.
Mais do que nunca, o impacto do clima na agricultura é um tema fundamental. A tendência é que oscilações no tempo se tornem cada vez mais frequentes, exigindo mais preparado do agricultor, para que ele seja capaz de fazer frente a esse cenário, garantindo a rentabilidade e a sustentabilidade no campo.
Aproveite para saber mais sobre o impacto das mudanças climáticas na agricultura com este outro conteúdo aqui do nosso blog.