Como está o mercado de cana-de-açúcar diante da pandemia?
A pandemia do novo coronavírus trouxe impactos para todos os setores da economia, e o agronegócio também está sentindo os reflexos desse cenário. No mercado de cana-de-açúcar, houve mudanças na comercialização, decorrentes, principalmente, das demandas internacionais.
Sendo líder na produção dessa commodity, o Brasil agora está precisando se adequar para que o setor sucroenergético consiga passar por este momento com os menores prejuízos possíveis. Essas dificuldades, aliás, contrastam com a boa safra esperada para 2020/2021.
Os reflexos são sentidos em toda a cadeia de produção, afetando não apenas as usinas, como, também, o campo. Pensando nisso, preparamos este artigo para que você possa entender como está o mercado atual de cana segundo os impactos provocados pela crise sanitária. Continue lendo para descobrir!
Como era o mercado de cana-de-açúcar?
O Brasil é o principal produtor de cana-de-açúcar do mundo e um dos líderes do mercado açucareiro. Além disso, o país também é destaque na produção de etanol — mantendo-se em segundo lugar.
Dado esse cenário, fica evidente a importância da cana-de-açúcar para a economia brasileira. Por isso, os impactos provocados pela pandemia do coronavírus preocupam especialistas e agricultores do ramo.
Na safra 2019/2020, o Brasil apresentou um bom desempenho com a moagem de 590,36 milhões de toneladas, produção de 26,76 milhões de toneladas de açúcar e 33,26 bilhões de litros de etanol, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
Esse resultado se deu graças ao cenário da época, que se mostrava ainda mais promissor para a safra 2020/2021. A seguir, você pode conferir algumas informações sobre o mercado antes da crise para fazer um comparativo com a nova realidade e as perspectivas para o setor sucroenergético.
Área plantada e produção
A safra 2019/2020 de cana-de-açúcar encerrou no dia 30 de março de 2020. Com relação à área plantada, houve uma redução em comparação com a safra 2018/2019.
Foram colhidos cerca de 8,5 milhões de hectares, com queda maior registrada na região Norte, de 6,6% da área cultivada; já no sul, houve uma baixa de 5,7%.
Entretanto, mesmo com menos hectares plantados, ocorreu um aumento da produtividade. Em todo o Brasil, foram colhidos mais de 642 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, o que representa cerca de 75,7 toneladas por hectare.
Mercados produtores
A cana-de-açúcar é cultivada em mais de 100 países, caracterizando-se como uma das principais culturas. Conforme explicamos, o Brasil é o maior produtor dessa commodity, seguido da Índia e da China.
Cerca de 65% da cana-de-açúcar colhida em território nacional é destinada para a produção de etanol anidro e hidratado. Na safra anterior, foram produzidos cerca de 33,98 bilhões de litros do produto fabricado exclusivamente a partir da cana, um número menor apenas do que o dos Estados Unidos.
No que se refere à produção de açúcar, o Brasil é líder mundial tanto em produção quanto em exportação. Na safra 2019/2020, as usinas brasileiras produziram 29,6 milhões de toneladas. O estado de São Paulo tem destaque, respondendo a cerca de 55% de toda a área plantada no país.
Além disso, mais de 40% das usinas brasileiras estão instaladas nesse estado. No cenário mundial, São Paulo é o maior produtor de etanol e cana-de-açúcar, sendo que, em 2016, 14% do açúcar produzido no mundo partiu de lá (24,3 milhões de toneladas).
Mercados consumidores
No ano passado o mercado de etanol estava muito aquecido. De abril de 2019 até fevereiro de 2020 o Brasil exportou 1,77 bilhão de litros. Apenas no 1º bimestre de 2019, o mercado interno consumiu 3,59 bilhões de litros de etanol hidratado. São Paulo também é o maior consumidor, com 1,85 bilhão de litros nesse mesmo período.
Já no cenário do açúcar, os maiores consumidores são a Índia, o Brasil, os Estados Unidos, a União Europeia e a China, que consomem cerca de 70 milhões de toneladas por ano, quase 50% do total mundial. Aqui, vale destacar que de 70% a 85% de todo o açúcar consumido no mundo vem da cana.
No ranking, o Brasil é seguido por Áustria e Tailândia como grandes exportadores do produto. Com relação à importação, as principais regiões que procuram pelo açúcar são os Estados Unidos, a Rússia e a União Europeia.
Quais mudanças têm sido observadas diante da pandemia?
Durante a pandemia, houve uma desvalorização do petróleo, e isso gerou impactos no setor sucroenergético. Como o Brasil é um dos principais produtores, os reflexos serão sentidos na comercialização tanto do etanol quanto do açúcar.
A expectativa é de uma excelente safra 2020/2021, com o aumento das toneladas colhidas. Isso, porque as condições climáticas favoreceram o desenvolvimento das lavouras e foram feitos investimentos e planejamentos na área.
No entanto, ainda há incerteza em relação à baixa demanda e aos preços que serão praticados. Como o setor de combustíveis está sendo bastante afetado, a tendência é de que ocorra uma aposta maior na produção de açúcar.
Porém, nem todas as usinas estão devidamente preparadas para fazer essa mudança. Algumas dependem exclusivamente do etanol e, portanto, podem sofrer um impacto maior com as variações do mercado. Já as demais devem manter o fluxo de caixa a um nível mais saudável por meio da comercialização interna e a exportação do açúcar.
Ritmo de moagem
Pela necessidade de evitar a aglomeração de pessoas e para garantir a segurança, a tendência é que a moagem aconteça de uma forma mais lenta, o que vai impactar a produtividade do setor. No Centro-Sul, por exemplo, a expectativa é de 597,8 milhões de toneladas.
Tanto essa redução quanto o adiamento da safra podem trazer problemas para as usinas. Afinal, com uma produção menor, o fluxo de caixa também é reduzido. Além disso, como o preço da gasolina está em baixa, haverá um aumento da oferta de etanol, diminuindo os preços.
Oferta x demanda
Como a safra 2020/2021 será bastante produtiva, teremos muitas toneladas de cana-de-açúcar no mercado. Em contrapartida, há o problema de uma demanda menor, o que causa a desvalorização dos produtos.
Como os reflexos maiores serão sentidos na comercialização do etanol, a estimativa é de que 42,1% de toda a cana processada seja utilizada para a fabricação de açúcar. Com um mix maior de produtos, há uma esperança de estabilidade para as usinas que conseguirem adequar a sua produção.
No caso daquelas cujo foco principal é o etanol, pode ser necessário fazer a estocagem do produto neste momento, para uma comercialização posterior. A sobrevivência, nesse caso, poderia ser garantida por meio de financiamentos do governo.
Comportamento dos preços
Os reflexos da pandemia já começaram a ser sentidos: nos primeiros 15 dias de março, houve uma queda de 16% na comercialização do etanol hidratado. Entre 30 de março e 3 de abril, o preço do litro na usina foi de R$ 1,3049, sendo que, entre 24 e 28 de fevereiro, a média era de R$ 2,1354.
Mesmo que o açúcar seja uma possível solução para o setor, também já houve variações no preço dessa commodity. No início de fevereiro, a oferta era de US$ 0,15 por libra-peso, enquanto que, no contrato para maio, os preços praticados foram menores do que US$ 0,11.
Assim, com uma safra muito prolífica, a redução da demanda pelos produtos, a desvalorização no mercado internacional e a dificuldade de adequação das usinas destiladoras, vemos um momento muito desafiador para o setor sucroenergético.
Diante de cenários como esse, é preciso fazer um bom manejo da lavoura utilizando os produtos adequados, a fim de elevar a qualidade da cana-de-açúcar e, assim, agregar maior valor para a safra, minimizando prejuízos.
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